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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ótima entrevista do Kalil no jornal O Globo

Kalil mais uma vez concede uma excelente entrevista que vale a pena ser lida. Desta feita, ela foi para o jornal O Globo, com sede no Rio de Janeiro. A matéria está demais!
Curtam!

Na capa do caderno de esportes, hoje:

* “Alexandre Kalil: ‘A mão que bate é a mão que afaga’”

Presidente do Atlético-MG fala sobre a campanha do clube e as boas atuações de Ronaldinho

RIO – O presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, endureceu sem perder a ternura, em especial após a goleada para o Cruzeiro no Campeonato Brasileiro do ano passado. Desde então, diz, nunca mais foi o mesmo dirigente. Sob firme comando, Ronaldinho Gaúcho voltou a jogar com dignidade e o clube, a brigar por um título de expressão.

O campeonato está decidido, presidente?

Não, só acaba no dia 2 de dezembro.

Dá para tirar a diferença para o Fluminense?

Claro. Jogamos pela primeira vez a responsabilidade para eles (após a vitória por 3 a 2), que estavam com muita frente. Vai ser decidido agora, e o Cuca é treinador de arrancada.

Qual o impacto daquela goleada por 6 a 1 para o Cruzeiro na montagem do time atual (na última rodada do Brasileiro de 2011, o Cruzeiro poderia ser rebaixado)?

Não é na montagem, é na história do Atlético-MG. Aquilo foi um limão que virou uma limonada, uma virada definitiva para colocar o Atlético-MG no lugar dele.

O senhor tinha vontade de ter rebaixado o Cruzeiro?

Essa pergunta até me ofende. Não tem a menor dúvida. Aquilo foi uma tragédia pessoal. Não há ninguém que tenha ficado triste como eu. Foi um jogo que mudou a história do clube, nunca mais fui o mesmo presidente.

Por quê?

Porque a gente aprende na dor. Quem não tira nada da dor é um imbecil. Existe uma frase que diz o seguinte: Você sabe quanto custa, mas não sabe o valor (a frase é “Hoje em dia, as pessoas sabem o preço de tudo, e o valor de pouco”, do escritor Oscar Wilde). Todos sabem quanto custou a goleada, mas poucos sabem o valor.

O Flamengo, outro rival histórico e próximo adversário, de certa forma impediu que o Atlético-MG tivesse uma dimensão ainda maior do que tem hoje por conta de vitórias sobre seu clube?

O Atlético-MG está hoje do tamanho que ele é, do que tinha nos anos 80. Passamos por um período ruim, que aconteceu com Inter, Santos, Grêmio, com o Fluminense, que chegou ao fundo do poço. Os ingressos para o jogo de quarta-feira esgotaram em uma hora e meia, e não é ingresso de R$ 10. É de R$ 60, R$ 150 e R$ 200.

O senhor nutre algum sentimento pelo Flamengo?

Engraçado, nenhum. Flamengo, Fluminense e Vasco, para mim, são a mesma coisa. Só nutro ódio mortal pelo Cruzeiro. Seria incapaz de fazer algo para prejudicar o Flamengo.

O senhor teve méritos de convencer Ronaldinho tão rapidamente a ir para o Atlético-MG?

Não houve mérito, essa coisa de grande dirigente, foi um conjunto de coisas. A primeira coincidência foi estar no Rio e Assis também. Acelerou o processo em 24h. Disse que só contrataria depois de conversar com o próprio. Aí, cheguei para o Ronaldinho e disse: “Pega essa sua mágoa, o seu ódio, que eu quero ele para mim, quero usá-lo a meu favor.”

Ele tem razões para ter essa mágoa?

Na confusão, falam-se absurdos. Um clube que publica um documento íntimo de um atleta circulando dentro do hotel (na verdade, um vídeo), ou diz que tirou sangue do jogador bêbado dentro do clube? Houve excesso, não se pode extrapolar. Essa briga entre o Flamengo e o Ronaldo é comercial.

Na época, questionado sobre os riscos da contratação, o senhor disse a frase “Aqui não tem Assis, não”.

E não tem mesmo. O Assis é um cara comercial, que aparece quando é solicitado. O Ronaldinho encontrou aqui o mundo real. O que é isso? É o seguinte: Olha, Ronaldinho, aqui tem hora, trabalho, responsabilidade, gente te olhando e uma torcida da qual você pode ser ídolo. E aqui você vai ter de alugar sua casa, pois não pago casa para ninguém. Vai ter as mesmas regalias que o Marcos Rocha. Mas vai receber em dia. Então, vem para cá que o mundo irreal é muito ruim.

O Flamengo é um mundo irreal?

Não é o Flamengo, o Rio de Janeiro é um negócio diferente. E continua ganhando título. Você está falando com o mineiro mais carioca do Brasil. Me disseram para andar com segurança aí. Quer dizer que vou caminhar pela orla e depois vou tomar um chope e comer empada de camarão no Baltazar com segurança do lado?

Baltazar?

Aquele bar no Leblon… Bracarense! O Rio é uma festa, só que misturam um pouco a hora de ir para a festa com a hora do trabalho. Pelo próprio encanto carioca. Aqui, temos de trabalhar, não tem coisa nenhuma. Pior é o paulista.

Por isso, Ronaldinho está dando tão certo no Atlético-MG? A impressão é que não houve paternalismo ou excesso de mimo.

Olha, sou muito carinhoso, com o Ronaldinho Gaúcho e qualquer outro jogador, resolvo o problema que tiverem, mas não vem com sacanagem para o meu lado. A mão que bate é a mão que afaga. Ajudo, mas não vem com sacanagem pra cima de mim. Eu me dedico ao Atlético-MG. No dia que acabar o mandato, pego meu boné e saio.

O senhor bateu boca com ele no vestiário antes do jogo com o Vasco?

Não. Bate-boca aqui é rescisão de contrato. Se bater boca comigo, vai para a rua na hora. Nunca discuti com jogador em três anos de mandato. Mando embora. Só precisa aparecer para fazer o acerto. Este é o meu estilo.

O senhor já atrasou salário?

Nunca. Pago no dia 1º. Quando cai no sábado, pago na sexta, 31. Só paguei umas duas vezes no dia 2.

É fundamental para o time render?

Não, é fundamental para ter um presidente com o meu temperamento.

Por que os clubes brasileiros, que têm ótimas receitas, continuam com tantos problemas financeiros?

Quem paga R$ 600 mil, R$ 700 mil de salário não fecha a conta. Se eu tivesse uma cooperativa pagando, estava ótimo, mas não tenho. Tenho que fechar a conta e pagar no final do mês. O Atlético-MG está bem hoje porque fechei a torneira, mandei gente embora… Para fazer obra tem que ter licitação e, se quiser comprar alguma coisa, tem que saber o motivo, quanto é, avaliar antes de executar.

O senhor dirige o Atlético-MG com mão de ferro, certo?

Totalmente. O estatuto é presidencialista. Não tenho vergonha de dizer como dirijo o clube. Aqui, ninguém manda coisa nenhuma, falo isso para todos. Tem que me pedir para falar. Só tem uma voz. O que sai é oficial.

Como é sua relação com a CBF?

Boa. Vou lá quando tem reunião, para reclamar de arbitragem… Digo para o presidente que não me convide para nada, como chefiar delegação. Isso para mim é a morte. Marin (presidente José Maria Marin) é muito gentil comigo, e devolvo educação e gentileza, como minha mãe me ensinou.

Concorda com a maneira como a CBF conduz o futebol brasileiro?

Sou a favor de uma direção de futebol para cuidar do interesse dos clubes. Se a CBF não criar, nós criaremos. Precisamos de uma mesa para sentar lá dentro. Não vai custar nada para eles, os clubes têm condições de pagar um executivo que cuide de interesses em comum, como Timemania, impostos, questões da Receita Federal. Não adianta ter diretor de futebol, que não tem serviço para fazer. Há uma supervalorização da Copa do Mundo.

Os europeus já pensam assim.

Não sei o que pensam os europeus. Sei que meu CT não está à disposição da Fifa. Não assinei o protocolo e não assino. Não me interessa receber seleção nenhuma, a não ser que pague muito dinheiro para sentar a bunda no melhor CT do Brasil. Só cedo para a seleção brasileira. De resto, não tenho o menor deslumbramento.

O senhor ainda está longe de igualar seu pai? (Elias Kalil foi presidente no período 1980/1985, e ganhou cinco títulos estaduais).

Ninguém, por mais que ganhe ou faça, vai igualá-lo. Ele é o Juscelino Kubitschek do Atlético-MG. Foi papai quem o colocou na prateleira de cima do futebol brasileiro. Eu recoloquei, pois tinha a vaga e eu disse que era minha. Não poderia morrer sem ser presidente. Falava isso, hoje tenho certeza.

A vaga na Libertadores é certa?

Estamos muito próximos, a três ou quatro pontos.

Vai reforçar o time?

Com certeza. Faremos algumas contratações pontuais.

Para encerrar, o Atlético-MG vai vencer o Flamengo?

Você está doido? Pergunta cretina eu não respondo.

COMENTÁRIO:

Kalil foi mais uma vez brilhante, foi posto a prova ao ser questionado sobre Flamengo, pois qualquer declaração polêmica dele poderia insuflar os ânimos por parte do time rubro-negro. Foi firme ao se referir a assuntos delicados e mostrou mais uma vez porque é um dos principais cartolas do atual futebol brasileiro. Que ele possa fazer de 2013 um ano ainda melhor que o atual!

Força Galo e Kalil!
Saudações,

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